O jantar de fevereiro foi
diferente e bem especial. Se os vinhos Italianos têm marcado
presença assídua, desta vez fomos mais longe: o nosso estimado
Marco Giorgetti assegurou pratos e vinhos de Itália, mais
especificamente do Piemonte. Foi o mais internacional dos nossos
jantares e excelente: comida ótima, vinhos gastronómicos e de
grande qualidade, o que proporcionou, naturalmente, um fantástico
momento.
O Piemonte situa-se no
noroeste de Itália, junta à fronteira com a França, circundado a
norte e oeste pelos Alpes e protegido do vento mediterrânico do sul
pelo Appennino da região da Ligúria (fica um pouco abaixo). Tem
como capital Turim. No Piemonte temos várias regiões vínicas,
algumas bem conhecidas, como Langhe (património UNESCO 2014), onde
se situam as sub-regiões Barolo, Barbaresco e Asti/Canelli. A região
dos Barolo e Barbaresco tem como cidade de referência Alba (Alba
Pompeia).

O arranque foi com
bolhas. Em Itália, além do mais conhecido Prosecco (produzido com o
método Charmat-Martinotti), existem diversas áreas que produzem
espumante segundo o método clássico. Uma destas é a área de
Canelli (mais famosa pelo Moscato), que foi a primeira do país a
produzir espumantes. O produtor Contratto foi o primeiro a produzir
um Millesimée. Começámos com um Contratto Blanc de Blancs 2010,
100% Chardonnay, que se mostrou bem agradável, com cor palha fora
do comum, aromas amanteigados, boca suave, fresca e equilibrada até
ao final médio. A versão Contratto Rosé, também 2010, foi
bem mais do agrado dos convivas. Com complexidade muito atrativa nos
aromas, mostra bela cremosidade e boa frescura na boca. Termina
longo, muito bom. Um espumante que reuniu aprovação geral.

O capítulo brancos foi
com um Vermentino de Toscana, elaborado com a casta
Vermentino, cujo teste ADN revelou corresponder à nossa Códega do
Larinho. É um vinho de grande prazer na prova, que repetiu presença
e sucesso. Cor palha, aromas frutados e minerais; suave, fresco e
equilibrado, termina médio. Muito bom. Neste caso, fizemos um desvio
à região da Toscana, mais próxima do centro do país.
Mas o Piemonte tem nos
tintos o seu forte. A casta Nebbiolo, de quem Júlio César já era grande apreciador, origina vinhos de renome mundial, especialmente
os produzidos nas regiões de Barbaresco e Barolo. Não faltaram na
noite, obviamente.
Arranque dos tintos com 2
Barbarescos: Vigneto Bordini 2007, de cor
grená, aroma complexo, com notas balsâmicas e de madeira. Na boca,
mostra corpo médio, uma estrutura de taninos muito forte, que
confere alguma adstringência. Mantém-se equilibrado, final médio e
muito bom. O caráter seco dos taninos dividiu um pouco os presentes,
mas o grande potencial do vinho foi reconhecido de forma unânime; o
outro Barbaresco foi o Vigneto Stardere Vursu 2006,
cor rubi, aroma mais marcadamente especiado, mas também os
balsâmicos e a madeira se mostravam. Presença de boca muito
semelhante ao anterior, fresco, equilibrado, super estruturado
(alguma adstringência), final médio. Muito bom. Há naturalmente
muitas semelhanças entre os vinhos, mas transmitem algumas diferenças
ao nível aromático e da adstringência dos taninos: efeito terroir
e ano.

Seguiram-se
os imponentes Barolo, com um leão no rótulo a transmitir o
posicionamento topo do vinhos. O Vigneto Garretti 2010
mostrou uma cor rubi, aromas especiados típicos do Nebbiolo, na boca
corpo médio, bela estrutura de taninos redondos e fesco. Termina
longo, excelente. As concentração e equilíbrio são notáveis e
encantadoras. Naturalmente, aprovação geral. O Vigneto
Campe Vursu 2005 subiu ainda
mais o patamar. Tempo e terroir contribuíram para uma grande
complexidade no nariz e uma presença excelente na boca, mais
encorpado, mais polido, fresco e com final longo. Excelência no
copo, num vinho de puro prazer. Foi a rendição total, aprovado por
unanimidade e aclamação.

Para
acompanhar a sobremesa algo mais leve, perfumado e adocicado: um
Moscato Biancospino 2014.
Este moscato não é espumantizado e estagia apenas 15 dias no
autoclave para originar um vinho fresco, adocicado e uma graduação
próxima dos 5%. O Biancospino foi, juntamente com o seu irmão
Bricco Quaglia, o primeiro varietal desta casta em Itália. Produzido
entre as sub-regiões de Barbaresco e Canelli, é um dos melhores do
país pela forma como alia a frescura dos brancos de Canelli à força
e elegância dos Barbaresco. Um vinho agradável, equilibrado, fácil
de beber, para momentos descontraídos ou de socialização.
Em dois dos vinhos
provados destacou-se a palavra Vursu. É um termo do dialeto do
Piemonte que tem um significado muito especial, na medida em que
informa o mundo que o vinho corresponde ao objetivo do produtor. Era
mesmo aquele vinho que pretendia fazer.
É difícil exprimir como
vivemos a experiência deste jantar, dada a especificidade do que
provámos. Resta agradecer ao Marco Giorgetti ter preparado o evento
e ao Villazur a disponibilização dos meios logísticos para tal. Só
foi possível após meses a experimentar e entender os vinhos do
Piemonte, em especial os do produtor La Spinetta, que conquistou uma
imagem de grande qualidade no 4 Horas à Mesa.
Nome Vinho |
Ano |
Tipo |
Castas |
Região |
Produtor |
Preço Prateleira |
Nota |
Contratto Blanc de Blancs |
2010 |
Espumante |
Chardonnay |
Piemonte Itália |
G. Contratto |
20,00 € |
16 |
Contratto Rosé |
2010 |
Espumante |
Pinot Noir |
Piemonte Itália |
G. Contratto |
25,00 € |
17 |
Vermentino de Toscana |
2012 |
Branco |
Vermentino |
Toscana Vermentino IGT |
La Spinetta |
15,00 € |
17 |
Barbaresco Vigneto Bordini |
2007 |
Tinto |
Nebbiolo |
Barbaresco DOCG |
La Spinetta |
40,00 € |
16 |
Vursu Vigneto Starderi Nuriv |
2006 |
Tinto |
Nebbiolo |
Barbaresco DOCG |
La Spinetta |
98,00 € |
17,5 |
Barolo Vigneto Garreti |
2010 |
Tinto |
Nebbiolo |
Barolo DOCG |
La Spinetta |
40,00 € |
17 |
Vursu Vigneto Campe |
2005 |
Tinto |
Nebbiolo |
Barolo DOCG |
La Spinetta |
110,00 € |
18,5 |
Biancospino |
2014 |
Branco |
Moscato d'Asti |
Moscato d'Asti |
La Spinetta |
12,00 € |
15,5 |