sábado, 13 de outubro de 2012

Jantar Setembro 2012


Agosto também foi mês de férias dos nossos jantares. Estas pausas têm como consequência habitual um entusiasmo reforçado no regresso. Desta vez, uma pequena nuance alterou o panorama habitual: o nosso local de conspiração, Fusão Restaurante Lounge, estava encerrado para férias. Havia que colocar pés ao caminho e escolher a alternativa. Felizmente, a solução apareceu de forma muito rápida e natural. O Sr. João Silva, do Restaurante Gaveto, em Matosinhos, tem sido presença adiada nos nossos jantares, pelo que, de forma quase automática, estabelecemos os devidos contactos para avaliar a possibilidade de nos receber. A receptividade não poderia ser melhor e, em poucos dias, acertámos todos os pormenores que fizeram do Gaveto o primeiro local, além do Fusão, a receber um jantar do 4HM no formato tradicional. Se há decisões que se revelam  acertadas, esta é uma delas. A recepção, o acompanhamento, o timing de serviço, entre outros aspectos, foram excelentes. O mais importante, a refeição, foi excepcional. Da entrada às sobremesas, tivemos oportunidade de experimentar do que melhor se faz na região, no segmento cozinha tradicional Portuguesa. Não faltaram vozes a manifestar intenção de voltar. Um sucesso.
Podemos explicar pela localização do Gaveto a pequena turbulência no arranque. Na verdade, já passava das 21h15m, quando a metade dos participantes presentes deu início ao evento. As garrafas para a entrada ainda estavam a caminho, logo, iniciámos com um branco. E muito bem, já que da Nova Zelândia chegou o primeiro riesling da noite, com um perfil um pouco guloso, a prometer não sobrar na garrafa de quem o beber. Os atrasos não foram totalmente comprometedores e o primeiro espumante estava pronto a ser servido de seguida. Início com Lopo de Freitas, Bairradino, que mostrou uma boa mousse e um perfil mais delicado. Seguiu-se o Quinta de Santa Cristina, que veio da região dos vinhos verdes e mostrou-se agradável e fresco. O arroz de tamboril estava a chegar e continuou o desfile dos brancos. A quinta de Santa Cristina volta à mesa, desta vez com um branco, cujos aromas de banana e acidez pouco vincada não fizeram lembrar a região (levantou-se a hipótese da garrafa poder não estar nas melhores condições). Novo riesling da Nova Zelândia, Ribbonwood, da mesma região de Marlborough, já com o toque mineral que caracteriza a casta; convenceu. A aproximação ao continente Europeu fez-se com escala em Cabo Verde. Terra de Fogo diz a garrafa de um vinho local, de uvas Moscatel, que se mostrou bem feito, perfil equilibrado e consensual; uma brisa de exotismo que mereceu aprovação. Mas o capítulo dos rieslings ainda não tinha terminado. Para fechar o painel de brancos, da Alsace chegou o branco da noite; vinho com mais volume e suavidade de corpo a conquistar os convivas.
Ainda havia muito para beber e era altura dos tintos mostrarem o seu valor. O arranque foi com um ribatejano de 2004, que acabou por ficar para segunda prova com o objectivo de poder respirar mais um pouco no copo. Venha, então, nova surpresa. Terras de Belmonte chegou da Beira Interior sob a forma de um vinho respeitador das regras kosher, ou seja, que pode ser consumido por crentes da religião Judaica. Muito bem feito, começou por agradar, para depois surpreender com a história que consigo trazia. Vem o Quinta de S. João 2004 de novo à baila e surgem nuances nas opiniões. À esperada diferença entre apreciadores ou não de vinhos mais evoluídos, juntou-se uma interessante reflexão sobre a evolução do vinho com a temperatura, em que alguns dos presentes preferiram a temperatura inicial, ligeiramente mais fresca. O tinto da noite, no entanto, ainda estava para vir. Desta vez, foi o Alentejano Blog 2009 que trouxe a excelência à mesa. Um belo vinho, que se apresenta pujante, concentrado e sofisticado. A título pedagógico e de curiosidade, ainda passou pela mesa um Ramisco de Colares. Colheita da década de 60, o seu tom acastanhado e os seus aromas a café proporcionaram momentos especiais de degustação e aprendizagem.
Ainda os últimos comentários sobre os tintos pairavam no ar e a sobremesa aparece com a companhia do primeiro fortificado da noite. Um Vinho do Porto com laivos esverdeados que não deixava margem para dúvidas: anos e anos de garrafa. A Real Companhia Velha produziu, há mais de 100 anos, um vinho chamado Particular Medalhas, que nos coube em sorte provar e deslumbrar com as boa forma e complexidade que apresentava. Foi um momento reverencial face ao que estava no copo. Ainda houve tempo para fechar a noite com um Bastardinho de Azeitão 30 anos. É um licoroso que nos deixa sem palavras, de tão complexo, completo e emocionante de provar. Quando a euforia de provar um vinho centenário parecia o topo, este grande vinho nacional vem mostrar que a excelência na zona de Azeitão não se fica pelos Moscatéis. Foi eleito o vinho da noite, mas não de forma unânime, porque o Porto também teve votos.

No final, descontração e imensa satisfação foram a tónica, face ao elevado nível das experiências vínicas e gastronómicas vividas na noite. Ficam as impressões de 12 convivas (vinhos em prova cega) ansiosos pelo final de Outubro para novo encontro.


Espumantes
S. Domingos Lopo Freitas: Cor citrina, aroma vegetal e cítrico. Suave, fresco e equlibrado, termina médio. Muito bom.

Quinta Sta. Cristina Bruto: Cor palha, aroma frutado. Suave e equlibrado, termina algo curto. Um espumante agradável.



Brancos

Villa Maria Riesling: Amarelo citrino, nariz frutado, vegetal e balsâmico. Na boca, é fresco, suave e equilibrado, mantendo o perfil do nariz até ao final médio. Bom vinho.

Ribbonwood Riesling: cor amarelo citrino, aroma frutado e mineral. Na boca, mostra-se suave, fresco e equilibrado. O final é médio para uma apreciação global de muito bom.

Chã Terra Fogo: cor amarelo palha, nariz frutado, com alguma especiaria. Suave, fresco e equilibrado, termina médio. Muito bom.

Hugel Riesling: cor amarelo palha, nariz frutado e mineral. Com bom corpo cremoso, fresco e equilibrado, mantém o seu perfil até ao final médio. Muito bom.


Tintos

Terras de Belmonte: cor rubi, essencialmente frutado no aroma. Na boca mostra corpo médio, frescura, taninos redondos e equilíbrio global. Final médio, para uma apreciação global de bom vinho.

Quinta S. João: cor rubi, nariz frutado e balsâmico. Na boca é suave, fresco, com taninos redondos e equilibrado. Final médio, para um vinho muito bom.

Blog: Cor rubi, complexo nos aromas, com fruta, especiarias e notas de madeira. Encorpado, fresco, com taninos redondos e equilibrado, tem um final longo. Completo e cheio de força, está excelente.


Sobremesa

Particular Medalhas: cor esverdeada, aroma complexo. Suave, fresco e equilibrado, termina longo, numa apreciação global de excelente.


Bastardinho de Azeitão: cor acobreada, nariz complexo, com nuances de frutos secos, mel, café... Encorpado, com acidez vibrante e equilibrado, termina longo. Excelente.


Nome Vinho
Ano
Tipo
Castas
Região
Produtor
Preço Prateleira
Class.
Villa Santa Dry Riesling2011BrancoRieslingNova ZelândiaVilla Santa12,00 €16,5
Lopo Freitas2008Espumante BairradaCaves Solar S. Domingos17,50 €16
Quinta Sta. Cristina Bruto2009Espumante Vinhos VerdesGarantia das Quintas8,00 €15
Ribbonwood Riesling2011BrancoRieslingNova ZelândiaFramingham Wines12,00 €17
Chã Vinho do Fogo2011BrancoMoscatel brancoCabo VerdeViticultores de Chã das Caldeiras7,50 €15,5
Hugel Riesling2011BrancoRieslingAlsaceHugel & Fils16,00 €17,5
Terras de Belmonte2005TintoJaen, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Trincadeira, RufeteBeira InteriorAdega Cooperativa Covilhã9,00 €14,5
Quinta S. João2004TintoTouriga Nacional, Touriga Franca, Tinta RorizRibatejo DOCPinhal Torre20,00 €16
Blog2009TintoTouriga Nacional, Syrah, Alicante BouschetRegional AlentejanoTiago Cabaço Wines25,00 €17,5
Particular Medalhas Vinho do Porto Vinho do PortoReal Companhia Velha 18,5
Bastardinho Azeitão 30 anos LicorosoBastardoPenínsula de SetúbalJosé Maria Fonseca70,00 €18,5